Dia 23 de julho completei 25 anos de formada e ainda me lembro muito bem daquele dia. A formatura foi no auditório da Estácio, no Campus Rio Comprido - o único que existia. Estavam comigo meu ex-marido, Jósé Blois Filho, meus pais, minha irmã e meu sobrinho que estava com cinco anos. Vinte e cinco anos!!! Como o tempo passa...
Quando me formei já tinha estagiado no Jornal do Clube de Regatas Flamengo, produzido por uma agência de publicidade que ficava na Glória. Entrevistei vários jogadores: o Zico ( que estava no auge de sua carreira), Tita, Leandro, Abílio (que amor!) entre outros que nem lembro. Uma entrevista bem legal que fiz nesta ocasião foi com o Othelo, que tinha uma coluna no O Globo e era flamenguista doente Ainda tenho esses jornais. Foi um começo interessante!
Sai de lá por dois motivos: o primeiro, foi porque o editor me cantou descaradamente. O segundo, bem melhor, é que fui selecionada para estagiar na Super Rádio Tupi. Pouco depois, passei a estagiar também na Rádio Bandeirantes. Fui contratada nas duas. Foram tantas experiências de lá para cá...
De tantas, uma marcou a minha vida. Poderia ter sido um marco negativo, mas dei a volta por cima e tirei um grande proveito. Vou contar:
Na Bandeirantes, ainda estagiária, eu era responsável por fazer uma enquete nas ruas. Recebia a pauta e de gravador "tijolão" nas mãos saia pelas ruas do centro do Rio entrevistando pessoas. Todos adoravam o meu trabalho. Fazia perguntas criativas, não deixava "branco" e sabia improvisar. Meu Chefe de Reportagem Cláudio Eli me elogiava muito. Um dia "Tio Cláudio" - como eu o chamava - me contou que o diretor da rádio Pericles Leal o havia chamado para falar sobre mim e que achava que eu seria contratada. Fiquei eufórica! Fui para casa feliz da vida certa de que no dia seguinte seria efetivada. Que esperança... não era nada disso.
No dia seguinte cheguei na redação, que funcionava na Cinelândia, com o coração aos pulos de felicidade. Quando entrei senti o Tio Cláudio um pouco triste. Estranhei. Mais estranho ainda foi não encontrar minha pauta. E pior ainda saber que outra estagiária havia sido designada para fazer a enquete. "Estou contratada!!! - pensei animada, mas não durou muito minha alegria.
Claudio Eli me chamou e com jeito me comunicou que o Péricles Leal havia me tirado do ar, ou seja, eu não poderia mais falar no microfone porque a minha voz não passava credibilidade e que no ar eu parecia uma menina falando. Desabei!!! O que eu mais gostava era de ir "ao ar". Fui para casa aos prantos e chorei o dia todo, ou melhor, quase todo.
No meio do meu pranto uma luz se acendeu dentro de mim e eu me dei conta de que essa era a primeira vez que eu recebia uma crítica e que eu poderia fazer dela algo positivo. E assim o fiz. Neste mesmo dia, procurei no catálogo Páginas Amarelas (lembram-se?) cursos de oratória e impostação de voz e descobri que o Conservatório Brasileiro de Música, na Graça Aranha, tinha esses cursos. Peguei meu fuscão 70, laranja, rebaixado, com tala larga e cano de descarga furado, e fui até lá. Fiz minha inscrição. De posse desse "documento", voltei à rádio e fui falar com o Sr Péricles Leal.
Quando entrei na rádio, fui direto para a sala do diretor e pedi a secretária (como era o nome dela? Neide?) para falar com o "Dr" Péricles. Ele me recebeu e para surpresa dele comecei agradecendo o valioso "toque" que ele havia me dado. Contei que havia me matriculado num curso e expliquei que "ir ao ar" era importante para mim e que eu gostaria de ter uma nova oportunidade quando concluísse os cursos de impostação e oratória. Ele adorou!!! Não só me deu outra oportunidade, como me contratou e depois, quando foi dirigir a Tupi, me levou com ele.
Conclui meus cursos de impostação e oratória com a mestra Graziella de Salermo e depois ainda fiz Locução, na Associação de Radialistas. E continuei minha carreira em rádio. Passei pelo Tupi, Bandeirantes, Imprensa, Carioca.
Subi morro, entrevistei policial, bandido, presidente, governador, militares, assassinos e assaltados. Visitei muita comunidade carente e briguei por soluções para seus moradores: consegui asfaltar e iluminar ruas, melhorar o policiamento, acabar com abelhas e até morcegos. Cobri as "Diretas Já". Entrevistei Tancredo Neves, Ulysses Guimarães, Luiz Carlos Prestes ( ainda tenho a camisa das Diretas autografada por ele), . Subi no palanque do Comício da Cinelândia. Fui do Alicerce da Juventude. Mas essas são outras histórias...
Em comunidade.